2017-01-17
Mathias Zachert
Leia a entrevista completa do CEO global da LANXESS ao Rheinische Post
Sao Paulo -
Confira a entrevista com Matthias Zachert, CEO global da LANXESS, concedida ao Rheinische Post e publicada no dia 29 de dezembro de 2016.
RP: No Ano Novo teremos Donald Trump como presidente dos Estados Unidos. O senhor está preocupado?
Zachert: Muitas das declarações feitas durante a campanha eleitoral obviamente causam preocupação. Mas, espero que Trump tome decisões racionais como Presidente. Um novo protecionismo seria particularmente danoso. É do maior interesse de americanos e europeus, por exemplo, que o acordo de comércio livre TTIP seja efetivado. O comércio livre aumenta a prosperidade. Entretanto, o fato de que Trump mostra-se comprometido com a indústria e pensa em apoiá-la de maneira mais vigorosa, poderá provocar em nós um sentimento positivo. Na verdade, às vezes eu sinto falta desse tipo de compromisso na Alemanha.
RP: O que a mudança na política significa para a LANXESS, que tem forte presença nos Estados Unidos?
Zachert: Já concluímos aquisições estrategicamente importantes nos Estados Unidos antes das eleições. Adquirimos o negócio de descontaminação da Chemours e organizamos a aquisição da produtora de aditivos lubrificantes, Chemtura, por 2,4 bilhões de Euros. Se os Estados Unidos se fechassem para o mundo neste momento, já teríamos uma posição forte lá dentro. Nosso futuro negócio nos EUA, com 2.500 colaboradores, representará vendas no valor de dois bilhões de Euros.
RP: A aquisição da Chemtura ainda tem que ser aprovada pelas autoridades antitrustes, que serão controladas pela nova Administração.
Zachert: Nesse sentido, progredimos bastante. Há alguns dias já está certo que as autoridades antitrustes dos EUA não colocarão obstáculos à aquisição da Chemtura. Isto nos deixa bem mais próximos da aquisição.
RP: O senhor será capaz de fechar o negócio antes de meados de 2017?
Zachert: As aprovações antitrustes ainda estão pendentes em outros mercados, entre eles, na União Europeia e na China. A prática nos mostra que isto ainda levará mais alguns meses. Em particular, os acionistas da Chemtura ainda têm que concordar, e isto está planejado para o início de fevereiro.
RP: O senhor pretende alavancar sinergias no valor de 100 milhões de Euros, isto é, economizar custos após a aquisição. Haverá eventuais perdas de empregos?
Zachert: Quando se trata de sinergias, isso sempre implica envolver as estruturas. Por exemplo, não necessitamos de duas unidades administrativas, nem de duas empresas /pessoas jurídicas nacionais nos países em que, tanto a LANXESS como a Chemtura, estão atualmente representadas.
RP: Os empregados da sede da LANXESS em Colônia ou em Leverkusen devem se preocupar com seus empregos?
Zachert: Não, ao contrário. Somos a empresa adquirente e vamos permanecer em Colônia. Nossos locais de produção alemães também serão fortalecidos pela aquisição planejada.
RP: A Bayer está nas manchetes dos jornais devido à indenização de 123 milhões de dólares para Hugh Grant, o CEO da Monsanto. Esse valor absurdo pode ser realmente justificado?
Zachert: Nos EUA, em relação às aquisições, é prática comum pagar indenizações significativamente mais altas do que na Europa. Temos que aceitar isso. Entretanto, no caso da Chemtura, os valores são significativamente mais baixos do que o valor que você mencionou.
RP: O senhor tem dinheiro suficiente para a aquisição? 2,4 bilhões de Euros não são alguns trocados.
Zachert: Sim, emitimos um título de cinco anos a um baixíssimo juro de 0,25, bem como um título de dez anos a um por cento. Cada um desses títulos renderá 500 milhões. Arrecadamos mais 500 milhões por meio de um título híbrido, isto é, uma mistura de empréstimo e capitalização, a 4,5%. Neste caso, beneficiamo-nos das atuais baixas taxas de juros.
RP: Os locais de produção do Baixo Reno em Leverkusen, Krefeld e Dormagen agora têm que amargar a escassez de recursos devido a tais aquisições?
Zachert: Não, ao contrário. Investimos 200 milhões de Euros nos locais de produção alemães em 2016; quase 90% disso vai para as fábricas do Baixo Reno, com seus quase 6 mil colaboradores. Estamos comprometidos com o local de produção do Reno Norte-Westphalia. Gostaríamos de continuar investindo. Entretanto, temos que nos lembrar: isto só será possível no futuro, se as condições locais permanecerem favoráveis à indústria.
RP: Haverá eleições no Reno Norte-Westphalia em 2016. O senhor está preocupado com a possibilidade das condições locais piorarem?
Zachert: Nem todo político federal ou local reconhece o valor da indústria química, embora ela empregue 450 mil pessoas na Alemanha. Necessitamos de energia mais barata, uma boa infraestrutura, confiabilidade e procedimentos rápidos de aprovação. Não é possível que tenhamos que esperar meses pela aprovação da construção de um novo parque de reservatórios no Reno Norte-Westphalia. Ela é mais rápida em qualquer outro lugar.
RP: A Alemanha está se descuidando de suas indústrias?
Zachert: Outros países apoiam a indústria - tenho a impressão de que a indústria tornou-se um suplicante da política alemã. A indústria é obrigada a investir sua energia em discussões defensivas ao invés de investir em inovações. Lembro-me de nossa luta para obter o “Eigenstrom-Privileg” (privilégio de energia autossuficiente, isto é, a isenção de incidência de cobrança de energia verde).
RP: A sua fome será saciada assim que o senhor tiver adquirido a Chemtura?
Zachert: Primeiro, o mais importante. O fator de destaque de 2017 será a integração da Chemtura. Entretanto, uma vez digerido isso, certamente poderemos considerar outras aquisições. Queremos atuar ativamente na consolidação global do setor químico - por meio de novas aquisições, bem como por meio de crescimento orgânico.
RP: O senhor, finalmente, venderá o negócio de borracha que foi colocado numa joint-venture (ARLANXEO) com os árabes?
Zachert: O mercado global da borracha ainda sofre com a enorme capacidade excessiva. Em vista disso, a ARLANXEO foi muito bem. De qualquer forma, manteremos a joint-venture pelo menos até 2021. Ambos [os cenários] serão então concebíveis: retirada ou maior participação.
RP: Desde fevereiro, o preço das ações da LANXESS quase dobrou de 33 Euros para 62 Euros. O senhor não fica perplexo com isso?
Zachert: Não, estamos contentes, porque o mercado está recompensando nossa evolução bem sucedida. Em 2014, a LANXESS era um caso de realinhamento; tivemos que cortar 1.000 postos de trabalho e fechar a fábrica em Marl. Mas fizemos a lição de casa, realinhamos o Grupo e reduzimos significativamente a dependência no negócio de borracha volátil. Em 2016, realizamos duas grandes aquisições e conseguimos aumentar três vezes nosso guidance para o ano inteiro.
RP: A LANXESS poderá ser promovida novamente à liga das líderes de bolsas de valores?
Zachert: Esta é uma pergunta muito teórica. Uma promoção para as DAX certamente demandaria mais anos de trabalho duro. Nosso valor atual no mercado de capitais é de 5,7 bilhões de Euros. A empresa de habitação Vonovia, que tomou nosso lugar, por exemplo, tem um valor de mercado de mais de 14 bilhões de Euros. Se a Siemens se separar de sua divisão médica, novos pesos-pesados serão acrescentados. De qualquer forma, pertencer à DAX não é um objetivo direto para nós.
RP: Certamente os dividendos serão maiores em 2016 devido ao sucesso.
Zachert: Obviamente, nossos acionistas participarão do nosso sucesso corporativo. Sempre afirmamos: o objetivo da LANXESS é aumentar, mas no mínimo estabilizar os dividendos. Engajamo-nos nisso. Na Assembleia Geral, a Diretoria Executiva apresentará proposta para o aumento dos dividendos de 2016.
RP: E o senhor? Permanecerá como CEO da LANXESS após o término do seu contrato?
Zachert: Comecei na LANXESS em 2014, e tivemos que tomar diversas decisões difíceis no primeiro ano. Foi uma época difícil para todo mundo e para mim também. Agora estamos de novo nos trilhos e o time inteiro está totalmente confiante. Meu contrato vai até 2019 e eu gosto muito de trabalhar com esse time. Gostaria de continuar porque ainda temos planos para a LANXESS.